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sexta-feira, 7 de maio de 2010
Reflexões de Mauro Ribeiro
O que eu pensava quando comecei? “Eu quero ser um vencedor”. Acho que todos deveriam pensar assim também. Ninguém nunca falou que este é um esporte fácil
Durante 12 anos da minha carreira eu competi profissionalmente na Europa como ciclista de estrada, conquistando importantes resultados, entre os quais o mais conhecido dos leitores, a etapa do Tour de France de 1991.
Porém, eu credito boa parte deste sucesso à minha formação. Desde o incentivo do meu vizinho, que me convidou para correr e me emprestou uma bicicleta, passando pelos conhecimentos transmitidos no meu primeiro clube, o Cicles Romeo, responsável por despertar em mim o amor ao esporte.
A grande virtude deste começo – e uma grande diferença em relação à escola de ciclismo brasileira atual – era a dedicação à modalidade de pista.
Entre o meu começo, com uma bicicleta emprestada em 1979 até 1982, eu tive uma consistente ascensão, alcançando sucessos estaduais, nacionais, sul-americanos, pan-americanos tanto na pista quando na estrada.
O auge desta escalada foi o título do Mundial Júnior de Pista, em 82, na prova por pontos. Depois do Mundial, no qual superei nomes como Gianni Bugno, tornei-me naquele mesmo ano o campeão brasileiro de resistência na categoria elite, com 16 anos de idade.
Após apenas três anos de ciclismo, havia me tornado um ciclista polivalente. Lembro como se fosse hoje da insistência do treinador uruguaio Juan Timón sobre a necessidade de cuidar da parte técnica. Ele me fez aprender a competir no velódromo, que ensina o ciclista a controlar a bicicleta com agilidade e a tomar decisões rapidamente.
Hoje, o ciclista brasileiro demonstra querer pular etapas. Assim que conquista os primeiros resultados positivos, o ciclista já se enxerga como um profissional vitorioso. Mas ainda está muito longe disso.
Poucos dias atrás, conversei com alguns deles sobre o que os fazia sonhar em serem ciclistas profissionais. O primeiro me disse que era pela qualidade de vida. Outro contou sobre a necessidade de ganhar a vida de alguma forma. Teve um que disse que gostava de pedalar. Teve outro que assumiu pensar no dinheiro que o ciclismo poderá lhe render.
Estão errados. É uma leitura infantil do que é a realidade do ciclismo de alto nível. O que eu pensava quando comecei? “Eu quero ser um vencedor”. Acho que eles deveriam pensar assim também. Ninguém nunca falou que este é um esporte fácil. Pensar nos benefícios que competir na pista, e também no mountain bike, podem trazer para ele, mesmo que financeiramente não lhe rendam frutos.
Tudo tem de estar focado no esforço, no treinamento, na dedicação. Quem consegue fazer isso, acaba alcançando todos aqueles sonhos que os garotos me disseram. Aqui vale uma frase que aprendi com meu técnico na França, Bernard Thévenet (bicampeão do Tour de France), nos meus primeiros dias de equipe: “Aqui é difícil entrar e muito fácil sair”. Ou seja, ou se entrega 100% ou está fora.
Quando eu fui para a Europa, em 1985, era muito mais difícil do que hoje. Pensem que o Brasil era um país fechado ao que vinha de fora. Uma bike top era objeto raro. O mundo vivia os anos de Guerra Fria. Hoje, com 19 anos, qualquer garoto vai para o exterior e tem acesso à mesma bicicleta usada no Tour de France.
Naquele ano, eu fui convidado para um estágio de seis meses e consegui 17 vitórias, em provas como a Volta de Mallorca, que hoje é válida pelo ProTour. No ano seguinte, assinei meu primeiro contrato profissional e foi assim até encerrar minha carreira, em 1998.
Neste ano, o ciclismo de pista vive momentos de grande expectativa. O retorno do Luciano Pagliarini e o projeto para a Olimpíada de 2012 nos deixam muito animados. O Paglia tem talento, técnica e visão para desempenhar um grande papel. Espero que todos entendam a necessidade de se dedicar ao extremo a este trabalho. A pista custa caro e pede tempo para dar resultado. Mas eles chegarão. Qualidade os brasileiros têm de sobra.
Fonte: http://prologo.uol.com.br/
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