O brasileiro Murilo Fischer (Garmin) mal se lembrava da última vez em que abandonou uma prova com a camisa do Brasil. Foi em 2004, na sua estreia em mundiais, por conta de uma tendinite.
Esse é só mais um dos motivos que entristecem o ciclista após não terminar a última edição do Mundial, disputado na Austrália no início do mês.
Para ampliar a insatisfação, a certeza que vivia um grande momento fisicamente e o que o percurso se encaixava perfeitamente às suas características.
"Confio muito em mim, mas não é difícil perceber que a maioria dos ciclistas que ficaram entre os 15 primeiros têm estilos muito parecidos com o meu. Não digo que eu venceria, claro, mas poderia ter feito um resultado importante para mim e para o Brasil", lamenta o ciclista, que já está de férias no país.
Fischer aponta a ausência do técnico da seleção Mauro Ribeiro na delegação brasileira como o principal motivo para o seu desempenho. "Eu falei com ele pessoalmente sobre a importância dele na Austrália e sustentei com a CBC a necessidade de levá-lo", explica.
Para o brasileiro, a desistência do treinador - que alegou motivos pessoais - menos de 48h antes do embarque foi um sinal de falta de compromisso. "Eu tinha ele comigo amigo e depositava muita confiança nele, mas ele pisou na bola. Seus problemas não eram tão imprevisíveis assim", diz Fischer. que já havia deixado claro o desapontamento em sua página no Twitter.
Um possível atrito entre o treinador e a CBC foi descartado pelo brasileiro. "Ele tinha um compromisso comigo e poderia ter avisado antes que não iria. Eu quis que ele fosse e a CBC me deu o respaldo nesse sentido".
A ausência de alguém para resolver os problemas burocráticos - retirada do número, aluguel do carro, planejamento da alimentação e até mesmo encher as caramanholas - sobrecarregou o atleta que descansou muito pouco nas duas noites antecedentes à prova. Apenas Pablo Sani, encarregado de ser o mecânico estava com ele, além Márcia Fernandes, atleta do feminino.
"Chegamos 1h da manhã na Austrália e só consegui dormir às 4h da tarde no dia seguinte. No outro, fui dormir 1h da manhã para acordar as 6h para ir para a largada", cita o brasileiro, que não precisa explicar o impacto desta rotina no seu desempenho.
"É uma prova de alto nível, com atletas de alto nível. Não posso me dar ao luxo de fazer o meu e o dos outros enquanto os italianos estão aqui com uma delegação de 62 pessoas", afirma Fischer, que não pode contar com nenhuma outra pessoa, como o treinador das seleções de base, Gustavo Freitas, o Maninho, em função do visto para a entrada na Austrália, que demora mais de 10 dias.
Ele ainda tentou a companhia de um diretor da Garmin. Mas os custos eram muitos altos para a CBC.
Após mais de 200 km de prova, o preço foi cobrado e no ataque na subida do final do percurso ele perdeu contato com os líderes e acabou decidindo abandonar. "Não havia mais forças. Coloquei na coroinha e voltei para os boxes. Muito triste. Não é do meu estilo fazer isso e me senti muito mal em não conseguir continuar. Estava muito bem, mas os dias que antecederam a prova me minaram as forças. Foi uma chance desperdiçada que não volta mais", finaliza.
A vitória no campeonato brasileiro foi o único sucesso do ciclista na temporada. Único não, já que ele contabiliza, por exemplo os sucessos no Giro d'Italia e na Clássica de Hamburgo, com o velocista Tyler Farrar.
"Minha missão era ajudá-lo a vencer e quando ele consegue a minha sensação é de vitória também. Precisamos mudar - e até eu pensava assim - essa mentalidade de que só a vitória interessa. Foi uma grande temporada, sei que ganhei confiança da equipe e devo ter ainda mais responsabilidades na próxima temporada", diz o brasileiro, que descarta a possibilidade de trocar de time para o próximo ano, após as sondagens da Movistar.
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